quinta-feira, 17 de julho de 2008

Gotas dágua em um ciclone

Cena 1:

Conversa entre o casal, cobrança do homem, falam sobre uma tentativa sem sucesso de se comunicarem no passado, apresenta o homem com preocupações e desemprego. Homem em estado desleixado, rouco e desolado.

Cena 2:

Homem relata lembranças sofridas, fala como sonho, devaneio, fala de seus medos, o medo de estar inconsciente. Fala de dormir e acordar com problemas e danos físicos e emocionais. Falta de desejos de ter TV, som ligados, sonhos de consumo, de ter muita comida, bebida. Fala de desencontros. Roupas expostas e desarrumadas ao chão. Descreve uma bagunça, um lugar. Fala da tentativa de ligação de telefone sem sucesso. Depois pede a mulher que fale com ele, como para derreter o gelo entre eles, para não serem estranhos entre si. Fala do sentimento de estar perdido. Pede muitas vezes para ela falar com ele, como a chuva.

Cena 3:

Mulher fala sonho, de um anseio, de estar em um hotel com outra identidade, com outro nome, ter alguém para conversar, uma arrumadeira do hotel, não ter mais medos e ansiedade, ter alguém que lhe dê atenção, carinho nas mínimas ações. A vida ter frescor, leve para ela. Fala de sua vontade pelo relato de receber cheques pelo correio e tudo que quisera possa comprar. Conta os seus sonhos e profundos desejos de ser mais jovem, ter vários amigos, ter empregados em casa. Fala da sua transição para a velhice com algo leve, benéfico, de ter muita cultura adquirida, de ter livros e conhecer muitos artistas já mortos. Fala como um devaneio de ser tão leve como transparente a ponto de não ter problemas, sozinha, um tom de poesia de seqüência de imagens leves e com movimento.

Cena 4:

Ao fim eles se desentendem mais, ela quer ir embora, ele a detem. Eles se afastam, ele soluçando muito, ela treme de frio. Ao fim, depois de um pequeno espaço de tempo, afastamento e desolação ela o chama para a cama. Como um repetido ciclo.
Exposição de uma rotina de um casal, que desejam ser um verdadeiro casal, com um união mas expõem suas solidões em uma tentativa de aproximação. Uma repetição da cena, do dia-a-dia, de anos, transformando em patética. O casal vive em uma crise financiera, consequencia de uma crise nacional. Chove muito e venta muito. Um ciclone, aqueles exporadicos, como apices das chuvas, com as crises e apice de caos.
Casal que vive há 5 anos de casal juntos, jovens universitários, vivem em crise amorosa e financeira.

Um Jk mobiliado na Cidade Baixa. Num sofacama está deitado um homem de cuecas amarrotadas tentando despertar e seus tremidos e resmungar são do de um homem que foi deitar de ressaca de multiplas drogas. A mulher está sentada num puff junto à única janela do quarto, que dá pra um outro predio. A mulher está segurando uma caneca de água. Bebendo tremento em pequenos e descordenados goles. Os dois tem rostos maltradados, pela insônia, olheiras, drogas e rugas de não descançar.
Falam com uma pureza de criança com medo e ao mesmo tempo com dor e solidão. Um relogio sem funcionar na parede ao fundo, ao chão roupas, pontas de cigarro, contas não pagas, canudos de cedula ao chão, pontas de baseado, embalagens de remedios. Um galão de água de 10l no lado do sofacama. O casal são como dois desconhecidos. Há uma imcompreenção mutua, um desencontro, um desencanto, um eterno soltar de mãos, não reconhecimento alheio, um fantasiar mutuo, um pensamento mágicopairando as suas mentes, o confronto com outro, a eterna solidão, medo da hostil possibilidade de estar solteiro e solitario, exposição de um passado também só dormindo com milhares de pessoas por anos. A ponto de efemirade sem sentido. Busca da felicidade contro verso, a todo custo, a qualquer preço, Ela toa agora. Ele toma água com sal, faz um ciclone com água e sal. Ela representa a chuva, e ele os ciclones. Preenche o vazio dos dois, com a unica coisa que resta no JK, agua e sal.
Sal, dor e desespero. A falta de dinheiro, com o desemprego, estão vivendo os ultimos dias juntos, vivem como um casal, pagam as dividas, as finanças.
Agora ele com 26 e ela com 24, ele há 8 anos na faculdade sem terminar, e ela recém ingressa, há um ano. Ele faz engenharia mecanica na federal e ela entra pra faculdade de teatro, após 5 anos ter tentado medicina.
Peça inicia com a apresentação, cenário, situação e primeira exposição da vida e personalidade dos dois personagens. A flecha é a chegada da carta de desepejo da imobiliaria. O desenrolar, aumento da crise, solidão, os devaneios, desejos, medos, drogas, a quebra das promessas, o desenrolar dos eus internos de cada um, a reviravolta da perfil dela, o pragmatismo e descontrole dele crescente, o desencontro das almas, os diferentes alvos, alterado pelo tempo, a gravidez revelada dela, o desemprego dele. Ele ao fim revela a situação ainda pior, que é o útimo dia deles, no proximo dia terão de sair. Termina com a luz cortada. Acendem a útltima vela, com o ultimo fosforo, falam a sua ultima frase.
Há conflitos externos, exposição de conflitos internos, ela é a esperança, que sonha, espera um milagre, o confronto com a solidão, a falta de ideologia, a decadencia financeira, o confronto com o desemprego, as consequencias da inconsequencia, do mundo sendo um grande esmagador de sonhos e ideais e ideologias.
Peça curto de 1 ato.
Apresentação, carta, a mudança gradual da posição da moça, ela muda sua visão de mundo, reconhece sua falta de realidade, revela a sua gravidez, ele revela o situação ainda pior, ele revela sua situação de abandono. Tudo como um ciclo que se repete a cada dia. A singularidade está na forma na maneira de falar, existe uma certa delicadeza e pureza em meio a solidão e inconsequencia, uma forma meiga como de duas crianças solitarias que desejam ficar juntos, utopicamente, no entanto temos a impressão que vivem nessa situação íntima repetidas vezes.
Também há singularidade de já estarem na verdade mortos, vivendo um ciclo o ultimo dia de suas vidas, de um suicidio indireto, mas somente revelado tal fato ao fim.
A trama está na mudança de posição de cada personagem, ela do sonho para realidade e dele do fim da ultima ponta de doçura, para a amargez todas e mais e mais obtuso.
O sonho e realidade se conflitam so inicio ao fim, e conflitam internamente.
Ele não quer estar só, quer trabalhar mais não trabalha, desajuste, ela conflita com sonho e realidade, amor e desamor, ilusão e carne e osso.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Há sangue no algodão doce


Há uma porta de um buteco, placa de fechado, no meio do palco há uma poltrona velha. Cláudia sentada nela, olhando pra parede, catatonica. Entra. Elaine em cena olhando para para o teto, todos os lados.


Elaine: Deve ser aqui, deixa ver, apartamento 201. (Bate na porta)


Cláudia: Olá, quem é ? (Esfrega os olhos) É você Elaine? Não, não não...


Elaine: (Abraça Cláudia) Ah mana querida eu lutei anos até chegar aqui pra te rever. Mais de vinte anos... Ai, eu espero seja feliz tenha um aniversário bom agora. Ó teu presente. Eu gosto muito de “ti”.


Cláudia: (Abraça mais forte) Obrigada por ter vindo, não esperava ninguém nessa noite. O meu buteco fechou cedo hoje e todas meninas já se foram. E eu não tenho quase mais clientes. (Limpando a casa com uma flanela) Só me sobrou esse buteco, moveis velhos e essa poltrona que era do meu quarto, agora só mais uma poltrona velha assim como sua dona.

(Para de limpar a casa e olha a Elaine) Mana...


Elaine: (Largando a irmã) Eu não acredito que ainda depois de coroa está ainda nessa. (Irritadiça) Droga, me disseram que tinha largado isso. Sua, sua...

(cai com a mão no peito, surto de asma) Tu é uma piranha mesmo, como alguém pode te amar.


Cláudia: Mas... (Desmaia Elaine, Cláudia pega Elaine que acorda com a crise asmática, se arrastando vão até o carro.)

Me desculpa minha irmã, mas eu não tive escolha nessa vida. (Liga o carro e sai velocidade alta, olha pra Elaine) Tu tá bem mana? (Elaine balança a cabeça negativamente) Eu era muito nova, mas não tinha mais como morar contigo e o pai. (Fala com tom de choramingo) Tá, mas é esse meu presente de aniversário, pô?






Elaine: (Ainda tonta e em crise, abre os olhos) Va...


Cláudia: Eu sei eu sempre fui atirada, mas nunca escolheria essa profissão, me foi tirada a infância. Nem todos os pais deixam as crianças terem uma. Olha Cláudia eu te amo.


Elaine: (Tem uma melhora da crise e pula em cima de elaine e esbofeteando fala)Sua vadia, não queira empurrar a culpa do seu estado deplorável. Tu é uma aberração da natureza, tu é o lixo do mundo. Ama? (Tapa parcialmente os olhos de Elaine) Tá escutando, sua biscate!


Cláudia (Chorando e dirigindo com dificuldade e falando)

Aí não me bate, para, para, assim vamos ... ah cuidado!... ( Carro bate em um poste vermelho, invadindo uma propriedade)


(Cláudia e Elaine saem do carro, estão no meio de um cenário de propaganda. Com um calçadão com ladrilhos rosa e amarelo. As duas estão com ferimentos leves, ambas tontas. )



(Claudia pela janela do carro pega um algodão doce no banco de trás do carro)

Cláudia: Está vendo esse algodão doce, (Mostrando o algodão doce para a irmã) é como tu Elaine. Parece bem doce pra quem vê, mas está todo respingado de sangue. Teu sangue e meu. É uma dor. E ainda depois de tanto tempo na verdade se provar deve estar azedo. Sua alienada, sempre alienada, não vê a verdade em que vivíamos.


Elaine: (Gritando e urrando) É tudo mentira o que tu tá falando! Olha ao teu redor, olha isso. Aaaah! Deve ser a tua vida então. Um comercial. Uma vida de aparência. Tu é apenas um produto, uma mulher de plástico. Aaarg! Serve só pra ser usada. Puta! Feliz aniversário maninha, mulher objeto! Mais um produto. Mais um ano.


(Ivone aparece no meio das duas, triangulando com as duas e falando)


Ivone: (Aflita) Vocês duas são loucas? Quase me atropelam em plena madrugada e ainda invadiram uma propriedade privada. Ah, e ainda por cima precisam de cuidados médicos, foi uma batida forte na cabeça apesar de estarem de cinto, vocês podem ter algum complicação craniana...


Elaine: (Furiosa) Cala a boca tu também!


Cláudia: (Gritando pra Ivone) Fecha essa merda de boca, velha de merda!


Ivone: Assim vocês vão se matar. Pra que tanto ódio? Se vocês são irmãs, então devem se amar. Imagina se a mãe de vocês olhasse isso? Acalmem-se!

Eu vou ligar...


(Ivone ignorando as duas pega o telefone e faz ligação para ambulância. No fundo do palco de um lado para o outro, gesticulando, murmúrios. Elaine e Ivone continuam a bater boca no meio do set de filmagem.)


Claúdia: (Ironica) Não, melhor, tu não é esse algodão doce. Ele me lembra, a mim, aquele menininha, a minha infância que tinha tudo pra ser doce, e foi feito como esse doce aqui. Com gotas de sangue foi tirado toda a doçura.


Elaine: (Explode em fúria) Sua puta, ainda insiste em bater nessa tecla. (Começa a ter outro surto de asma, fala com dificuldade com raiva)

Tu foi a menor, deveria ter apanhado mais... eu sempre gostar de “ti”, te a... Argh!. Mas tu nunca deixou. Essa sujeira. (Olha pra cima) e agora essa luz.


(Chega a ambulância do hospital público, desce uma enfermeira no fim de carreira)


Joana: (Anteciosa, de prontidão) São vocês duas que precisam de cuidados?


Ivone: (Falando rapidamente) Sim senhora, são elas duas.


Cláudia: (Assustada) Atende ela primeiro, está com essas crises de asma, vão e vem. Estou preocupada. (Logo após Cláudia falar, desmaia Elaine)


(Pega em seu pulso)

Joana (Fala nervosa) Ela está sem pulso. Sem pulsação. Eu sinto muito.


Cláudia: (Em pavor) O que? Como assim? Salva ela senhora! Salvaaaaa...!



Joana: (Corta a fala de Cláudia) Não temos desfibrilador! O único que reclamamos a tempos, está estragado. Vou tentar procedimento antigo. (Faz as pulsações manuais no peito de Elaine, sem sucesso. Depois uma pequena pausa) Ela está morta.


Claúdia: (Olhando para Elaine nos seus braços) Elaine, fala comigo? Diz que sim! Diz que não é verdade, que pode se permitir!


(Cai a luz, e apenas um unico foco em Cláudia)


Claúdia: (Olhando para o horizonte) Espero que ao menos as futuras crianças desse país tenham infância, pois EU não tive. A falta de amor a matou.


(Cláudia cai aos prantos em cima de Elaine)


(Blackout)